LENDAS DOS ORIXÁS

01/07/2010 14:22

 

Oxalá criou o mar. Oxalá criou o mundo. Onde reina os orixás.
A pedra deu pra Xangô.Meu pai Rei e justiceiro
As matas deu à Oxossi.. Caçador velho guerreiro
Grandes campos de batalha. Deu pra seu Ogum guerreiro
Campinas, Pai Oxalá. Deu para seu boiadeiro.
Mar com pescaria farta. Ele deu pra Iemanjá
Os rios deu pra Oxum. Os ventos para Oyá
Jardins com lindos gramados. Deram pras crianças brincar
Oxalá criou o mundo
Onde reina os Orixás. O poço deu pra Nanã. A mais velha Orixá
E o cruzeiro bendito. Deu pras almas trabalhar
Finalmente deu as ruas. Com estrelas e luar. Pra Exu e pombogira. Nossos caminhos guardar.

“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: - Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia. - De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão. - Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração fará um dia voar às alturas. - Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como a águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não á terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, cicscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! - Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando no chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga: - Eu lhe havia dito, ela virou galiha! - Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levantaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e a vastidão do horizonte. Neste momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, e voar para o alto, a voar cada vez mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...” E Aggrey terminou conclamando: - Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

 

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Lendas

... o princípio de tudo

Olodumare (olorúm) é o principio de tudo é quem está entre o céu e a terra".
É o dono da criação. Com seus mistérios e seus elementos: aguá e terra e barro que somados formam o homem. E o homem somado a consciência formam os orixás. Exú é o principio de tudo pois foi gerado da terra e aguá (barro)
o ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmo transformou-se em lama.
Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, a primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento
olôrun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflou-lhe seu hálito e lhe deu vida.

Esta forma, a primeira dotada de existência individual, um rochedo de laterita era "exú yangi !!!"

... Lorogum

Exú, sabedor de que uma rainha fora abandonada pelo seu rei (dormindo assim em aposentos separados). Procurou-a, entregou a ela uma faca e disse que se ela desejasse ter ele de volta deveria cortar alguns fios da sua barba ao anoitecer quando o rei dormisse. Em seguida, foi a casa do príncipe herdeiro do trono situada nos arredores do palácio e disse ao príncipe que o rei desejava vê-lo ao anoitecer com seu exército. Em seguida, foi até o rei e disse: a rainha magoada vai tentar matá-lo a noite finja que está dormindo para não morrer. E a noite veio. O rei deitou-se fingiu dormir e viu depois, a rainha aproximar uma faca de sua garganta. Ela queria apenas cortar um fio da barba do rei, mas ele julgou que seria assassinado. O rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O príncipe que chegava com seus guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu para lá. O príncipe entrou nos aposentos e viu o rei com a faca na mão e pensou que ele queria matar a rainha e empunhou sua espada. O rei vendo o príncipe entrar no palácio armado a noite pensou que o príncipe queria matá-lo e gritou por seus guardas pessoais. Houve uma grande luta seguida de um massacre generalizado.

... Por Esquecimento ( Lendas referentes a Exú / Bara)

Uma mulher que esqueceu de alimentar exú se encontra no mercado vendendo os seus produtos. Exú então põe fogo na sua casa, ela corre prá lá, abandonando seu negócio. A mulher chega tarde, a casa está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou suas mercadorias. Nada disso teria acontecido se tivesse feito a exú as oferendas e os sacrifícios usuais em primeiro lugar.

... Sabedoria venceu ( Lendas referentes a Exú / Bara)

Um dia, oxalá cansado de ser zombado e trapaceado por exú, pois oxalá era muito orgulhoso e geralmente não agradava exú por ser um orixá mais velho. Decidiu combater exú para ver quem era o orixá mais forte e respeitado. E foi aí que oxalá provou a sua superioridade, pois durante o combate, oxalá apoderou-se da cabaça de bará a qual continha o seu poder mágico, transformando-o assim em seu servo.
Foi desde então que oxalá permitiu que exú recebesse todas as oferendas e sacrifícios em primeiro lugar...

... o grande golpe

Òrìsà Princípio de Movimento e Interligação. Certa vez, dois amigos de infância, que jamais descutiam, esqueceram-se de fazer-lhe as oferendas devidas para Esù. Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro. Esù, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira: Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os:
"Bom trabalho, meus amigos !"
Estes, gentilmente, responderam-lhe:
"Bom passeio, nobre estrangeiro !"
Assim que Esù afastou-se, o homem que trabalhava no campo da direita, falou para o seu companheiro:
"Quem pode ser este personagem de boné branco ?"
"Seu chapeu era vermelho", respondeu o homem do campo a esquerda.
"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe !"
'Ele era vermelho, de um vermelho escarlate, de fulgor insustentável !"
"Ele era branco, tratar-me de mentiroso ?" "Ele era vermelho, ou pensas que sou cego ? "
Cada um dos amigos tinha razão e ambos estavam furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram e bater-se até matarem-se a golpes de enxada.
Esù estava vingado ! Isto não teria acontecido se as oferendas de Esù não tivessem sido negligenciadas. Pois Esù pode ser o mais benevolente dos Òrìsàs se é tratado com consideração e generosidade. Há uma maneira hábil de obter um favor de Esù. É preperar-lhe um golpe mais astuto que aqueles que ele mesmo prepara.

... a grande seca

Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam secos e a chuva não caia. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum Òrìsà invocado escutou suas queixas e gemidos. Aluman decidiu, então, oferecer a Esù grandes pedaços de carne de bode. Esù comeu com apetite desta excelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Esù teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede.
Esù foi a torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória: "Joro, jara, joro Aluman; Joro, jara, joro Aluman."
E as rãsinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar. Aluman, reconhecido, ofereceu a Esù carne de bode com o tempero no ponto certa da pimenta. Havia chovido bastante. Mas, seria desastroso !!! Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.

... filho de Orunmilá

Um dia Orunmilá foi procurar Osalá em seu palácio. Orunmilá e sua mulher queriam ter um filho. Chegando ao palácio de Osalá, Orunmilá encontrou Esú Yangui sentado à esquerda da entrada principal. Já dentro do palácio, e diante do velho rei, Orunmilá fez seu apelo, escutando de Osalá uma resposta negativa. O velho rei afirmou-lhe que ainda não era tempo da chegada de um filho. Orunmilá, insatisfeito e ao mesmo tempo curioso, perguntou à Osalá quem era aquele menino sentado à porta do palácio e pediu ao rei, se poderia levá-lo como filho. Osalá garantiu-lhe que não era o filho ideal de se ter, ao que Orunmilá insistiu tanto em seu pedido que obteve a graça de Osalá.

Tempos depois nasceu Esú, filho de Orunmilá. Para espanto dos pais, nasceu falando e comendo tudo que estava a sua volta, acabando por devorar a própria mãe. Esú aproximou-se de Orunmilá para também comê-lo, entretanto o adivinho tinha consigo uma espada e enfurecido partiu para matar o filho. Esú fugiu, sendo perseguido por Orunmilá, que a cada espaço do céu alcançava-o, cortando Esú em duzentos e um pedaços. A cada encontro, o ducentésimo primeiro pedaço transformava-se novamente em Esú. Assim terminaram por atingir o último espaço sagrado e, como não tinham mais saída, resolveram entrar num acordo. Esú devolveu tudo o que havia comido, inclusive sua mãe, em troca seria sempre saudado primeiro em todos os rituais.

...Esu ganha o poder sobre as encruzilhadas.

Esu não possuia riquezas, não possuia terras, não possuia rios, não tinha nenhuma profissão, nem artes e nem missão. Esu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro. Então um dia, Esu passou a ir à casa de Osalá. Ia à casa de Osalá todos os dias. Na casa de Osalá, Esu se distraía, vendo o velho fabricando os seres humanos. Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, sete dias, e nada aprendiam. Traziam oferendas, viam o velho orixá, apreciavam sua obra e partiam.

Esu foi o único que ficou na casa de Oxalá ele permaneceu por lá durante dezesseis anos. Esu prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá modelava as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens, as mãos, os pés, a boca, os olhos, e a vagina das mulheres. Durante dezesseis anos ali ficou auxiliando o velho Orixá.

Esu observava, não perguntava nada Esu apenas observava e prestava muito atenção e com o passar do tempo aprendeu tudo com o velho. Um dia Osalá disse a Esu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa. Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Osalá.

Cada vez mais havia mais humanos para Osalá fazer. Osalá não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam. Osalá nem tinha tempo para as visitas. Esu que tinha aprendido tudo, agora podia ajudar Osalá. Era ele quem recebia as oferendas e as entregava a Osalá. Esu executava bem o seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo. Assim, quem viesse à casa de Osalá teria que pagar também alguma coisa a Esu.Esu mantinha-se sempre a postos guardando a casa de Osalá. Armado de um ogó, poderoso porrete, afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância. Esu trabalhava demais e fez sua casa ali na encruzilhada. Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, e sua casa. Esu ficou rico e poderoso. E ninguém pode mais passar pela encruzilhada sem fazer uma paga a Esu.

... Exu atrapalha-se com as palavras

No começo dos tempos estava tudo em formação, lentamente os modos de vida na Terra forma sendo organizados, mas havia muito a ser feito.

Toda vez que Orunmilá vinha do Orum para ver as coisas do Aiê, era interrogado pelos orixás, humanos e animais, ainda não fora determinado qual o lugar para cada criatura e Orunmilá ocupou-se dessa tarefa.

Exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos ordenadamente, ele sugeriu a Orunmilá que a todo orixá, humano e criatura da floresta fosse apresentada uma questão simples para a qual eles deveriam dar resposta direta, anatureza da resposta individual de cada um determinaria seu destino e seu modo de viver, Orunmilá aceitou a sugestão de Exu. E assim, de acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam um modo de vida de Orunmilá, uma missão, enquanto isso acontecia, Exu, travesso que era, pensava em como poderia confundir Orunmilá.

Orunmilá perguntou a um homem: "Escolhes viver dentro ou fora?". "Dentro", o homem respondeu, e Orunmilá decretou que doravante todos os humanos viveriam em casas.
De repente, Orunmilá se dirigiu a Exu: "E tu, Exu? Dentro ou fora?". Exu levou um susto ao ser chamado repentinamente, ocupado que estava em pensar sobre como passar a perna em Orunmilá, e rápido respondeu: "Ora! Fora, é claro", mas logo se corrigiu: "Não, pelo contrário, dentro", Orunmilá entendeu que Exu estava querendo criar confusão, falou pois que agiria conforme a primeira resposta de Exu, disse: "Doravante vais viver fora e não dentro de casa".

E assim tem sido desde então, Exu vive a céu aberto, na passagem, ou na trilha, ou nos campos, diferentemente das imagens dos outros orixás, que são mantidas dentro das casas e dos templos, toda vez que os humanos fazem uma imagem de Exu ela é mantida fora.

... Esú instaura o conflito entre Iemanjá, Oiá e Oxum

Um dia, foram juntas ao mercado Oiá e Oxum, esposas de Xangô, e Iemanjá, esposa de Ogum. Exu entrou no mercado conduzindo uma cabra. Ele viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia. Aproximou-se de Iemanjá, Oya e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orunmila.

Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. Iemanjá, Oiá e Oxum concordaram e Exu partiu.

A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Oiá e Oxum puseram os dez búzios de Exu a parte e começaram a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oiá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.

Iemanjá disse: “É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais”.

Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.

Oyá intercedeu, dizendo que , em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio.

As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios eqüitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oiá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Iemanjá a maior parte.

Pediram a outra pessoa q eu dividisse eqüitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Iemanjá e Oiá.

Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oiá. Mas Iemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oiá. Não havia meio de resolver a divisão.

Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: “Onde está minha parte?”.

Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo eqüitativo. Exu deu três a Iemanjá, três a Oiá e tre a Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.

Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser.

Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. “Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios.”

Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada.

Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.

... Exu leva aos homens o oráculo de Ifá


Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.

Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens ? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.

Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".

Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".

Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã.

Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".

Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".

Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".

Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.

 

Lendas

... divididos

Outra lenda nos fala sobre de um dos combates contra sua ex-esposa oyá no qual entre dois golpes deferidos por ambos ao mesmo tempo , ogun se transformou em sete (mejê) e oyá em nove (mesan).
Conta a lenda que Oyá era companheira de Ogún antes de se tornar a mulher de Sàngó. Ela ajudava Ogún, Rei dos Ferreiros, no seu trabalho. Carregava docilmente seus instrumentos da casa à oficina. E aí ela manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia Ogún ofereceu a Oyá uma vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, que tinha o dom de dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres, que por ela fossem tocadas no decorrer de uma briga. Sàngó gostava de vir sentar-se a forja apreciar Ogún bater e modelar o ferro e, freqüentemente, lançava olhares a Oyá. Esta, por seu lado, também o olhava furtivamente. Segundo um contador de histórias, Sàngo era muito elegante. Seus cabelos eram trançados como os de uma mulher. Sua imponência e seu poder impressionaram Oya. Aconteceu então, o que era de se esperar: ela fugiu com ele. Ògún lançou-se à sua perseguição. Ao encontrar os fugitivos, bradou sua vara mágica e Oya fez o mesmo, eles se tocaram ao mesmo tempo. E assim Ògún foi dividido em sete partes e Oya em nove. Ele recebeu o nome de Ògún-Mége-Iré e ela Ìyá Mésàn.

... a sua ira

Ogum decidiu, depois de numerosos anos ausente de Irê, voltar para visitar seu filho (informação pessoal do Oníìré em 1952). Infelizmente, as pessoas da cidade celebravam, no dia da sua chegada, uma cerimônia em que os participantes não podiam falar sob nenhum pretexto. Ogum tinha fome e sede; viu vários potes de vinho de palma, mas ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas perguntas. Ele não era reconhecido no local por ter ficado ausente durante muito tempo. Ogum, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, por ele considerado ofensivo. Começou a quebrar com golpes de sabre os potes e, logo depois, sem poder se conter, passou a cortar as cabeças das pessoas mais próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as suas comidas prediletas, como cães e caramujos, feijão regado com azeite-de-dendê e potes de vinho de palma. Enquanto saciava a sua fome e a sua sede, os habitantes de Irê cantavam louvores onde não faltava a menção a Ògúnjajá, que vem da frase ògún je ajá (Ogum come cachorro), o que lhe valeu o nome de ògúnjá. Satisfeito e acalmado, Ogum lamentou seus atos de violência e declarou que já vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu pela terra adentro com uma barulheira assustadora. Antes de desaparecer, entretanto, ele pronunciou algumas palavras. A essas palavras, ditas durante uma batalha, Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o evocou.

... disputando com Sango

Ogum e Sango nunca se reconciliaram e, vez por outra, se degladiavam nas mais absurdas disputas. Certa vez Ogum propôs a Sango que dessem uma trégua em suas lutas, pelo menos até a próxima lua que chegaria. Sango fez alguns gracejos ao quais Ogum revidou, mas decidiram por uma aposta, continuando assim a disputa.
Ogum propôs que ambos fossem à praia e recolhessem o maior número de búzios que conseguissem e quem vencesse daria ao perdedor o fruto da coleta.
Deixando Sango, Ogum seguiu para a casa de Oiá e solicitou-lhe que pedisse à Ikú (a morte) que fosse à praia no horário em que ele havia combinado com Sango. Oiá exigiu uma quantia em ouro, o que prontamente recebeu de Ogum. Na manhã seguinte, Ogum e Sango se apresentaram na praia, iniciando a disputa.
Vez por outra se entreolhavam e Sango cantarolava sotaques jocosos contra Ogum. O que Sango não percebeu é que Ikú havia se aproximado dele. Sango levantou os olhos e se deparou com Ikú que riu de seu espanto. Sango largou sua sacola com os búzios colhidos e desesperado se escondeu de Ikú. À noite Ogum procurou Sango mostrando seu espólio. Sango, envergonhado, abaixou a cabeça e entregou ao guerreiro o fruto de sua coleta".

 

Lendas

... arrependido sango retorna a orun

Xangô era rei de oyó, terra de seu pai; já sua mãe era da cidade de empê, no território de tapa. Por isso, ele não era considerado filho legítimo da cidade. A cada comentário maldoso xangô cuspia fogo e soltava faíscas pelo nariz. Andava pelas ruas da cidade com seu oxé, um machado de duas pontas, que o tornava cada vez mais forte e astuto onde havia um roubo, o rei era chamado e, com seu olhar certeiro, encontrava o ladrão onde quer que estivesse.
Para continuar reinando xangô defendia com bravura sua cidade; chegou até a destronar o próprio irmão, dadá, de uma cidade vizinha para ampliar seu reino. Com o prestigio conquistado, xangô ergueu um palácio com cem colunas de bronze, no alto da cidade de kossô, para viver com suas três esposas: oyá ( yansã ) amiga e guerreira; oxum, coquete e faceira e obá, amorosa e prestativa.

Para prosseguir com suas conquistas, xangô pediu ao babalaô de oyó uma fórmula para aumentar seus poderes; este entregou-lhe uma caixinha de bronze, recomendando que só fosse aberta em caso de extrema necessidade de defesa. Curioso, xangô contou a yansã o ocorrido e ambos, não se contendo, abriram a caixa antes do tempo. Imediatamente começou a relampejar e trovejar; os raios destruíram o palácio e a cidade, matando toda a população. Não suportando tanta tristeza, xangô afundou terra adentro, retornando ao orun.

... contas de Sango

Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: "- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre.

... contas de sango, uma outra visão

Sango, filho de Obatalá, era um jovem rebelde e vez por outra saía pelo mundo botando fogo pela boca, queimando cidades e fazendo arruaça. Seu pai, Obatalá, era informado de seus atos, recebendo queixas de todas as partes da terra. Obatalá alegava que seu filho era como era por não haver sido criado junto dele, mas que, algum dia, conseguiria dominá-lo.
Certo dia, estando Sango na casa de Obá, deixou seu cavalo branco amarrado junto à porta da casa. Obatalá e Odudua passaram por lá, viram o animal de Sango, e o levaram com eles. Ao sair, Sango percebeu o roubo e enfurecido saiu em busca do animal, perguntando aqui e acolá. Chegando a uma vila próxima dali, informaram-lhe que dois velhos estavam levando consigo seu animal, o que deixou Sango ainda mais colérico. Sango alcançou os dois velhos e ao tentar agredi-los percebeu que eram Obatalá e Odudua. Obatalá levantou seu opaxorô (cajado) e ordenou: "Sangò kunlé, foribalé". Sango desarmado atirou-se ao chão em total submissão à Obatalá.
Sango tinha consigo seu colar de contas vermelhas, que Obatalá arrebentou e misturou a elas suas contas brancas dizendo: "Isto é para que toda a terra saiba que você é meu filho".
Daquele dia em diante Sango submeteu-se às ordens do velho rei.

... arrependido e justiceiro

SÀNGÓ recebeu das mãos de OLODUMARÈ, o Deus supremo, um pilão de prata que representa a união da terra, ÀIYÉ, com o céu, ÒRUN, o plano paralelo a terra onde moram os Òrìsás. Nesta ocasião SÀNGÓ foi elevado a categoria de OBÁ OYO, rei de OYO, passando a ser o quarto ALÁÀÁFÍN de OYO, sendo o único ser vivo a ter o privilégio de ir e vir da terra para o céu para comunicar-se diretamente com ÒRÚNMÌLÀ, recebendo desse Òrìsá ordens e instruções para este melhor orientar-se em suas decisões na terra. Após contar a ÒRÚNMÌLÀ tudo o que se passava na terra ele retornava feliz , pois sabia que era de plena confiança desse Òrìsá. Como ser carnal ele foi possuído pela ambição, cometendo um pecado imperdoável aos olhos de OLÓÒRUN que, por ser muito justo, jamais aceitou uma traição. SÀNGÓ tentou apossar-se, definitivamente, do governo e dos poderes da terra e de todos os poderes que existiam no espaço. OLODUMARÈ sabendo de tudo que se passava castigou-o, tomando-lhe o pilão que lhe dava o poder de transitar, vivo, para o céu e o poder de governar os homens da terra. SÀNGÓ desgostoso e muito arrempendido dos atos que praticara entrou em completo desespero, de joelhos, rogou perdão a todos os seres maiores, que lhe viraram as costas. Triste e magoado subiu num monte existente em OYO e enforcou-se num pé de OBI , a nóz de cola , o pão de ÒÒSÀÀLÀ .

Porém SÀNGÓ não morreu, desapareceu, ficando o seu espírito entre os dois mundos paralelos a terra. OLÓÒRUN começou a sentir a falta de seu servo, mesmo sabendo de sua traição, pois SÀNGÓ foi apedrejado por todos, pois nessa época era a mais terrível das faltas. OLÓÒRUN pensou, pensou muito e tomou uma decisão, foi até OLODUMARÈ e rogou-lhe perdão em nome de SÀNGÓ, pedindo-lhe trouxesse-lhe seu tão amado servo . OLODUMARÈ então concedeu o perdão a SÀNGÓ, mas com uma condição, que não mais viesse como homem, mas sim como Òrìsá e que todas as pedras que lhe foram atiradas servissem para ele castigar os mentirosoa, os ladrões e que fulminasse os traidores. E assim foi feito. SÀNGÓ retornou a terra como Òrìsà e não mais como ARAYILE ( ser humano ) , representando assim, a ira do próprio OLÓÒRUN contra os homens que se comportam mal na terra, passando a ostentar então um pilão de duas bocas, a parte de baixo representando a terra e a de cima o céu, continuando, assim, a exercer o seu governo em forma de Òrìsá. É proibido o uso de OBI em seus assentamentos, pois lembra a sua passagem de vida e de morte na terra, tornando-se o OBI uma se suas grandes KIZILAS.

... Sango é condenado por Osalá comer como os escravos *

Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para levá-lo à festa que faziam em sua cidade. Oxalá era velho e lento, Por isso Airá o levava nas costas. Quando se aproximavam do destino, vira a grande pedreira de Xangô, bem perto de seu grande palácio. Xangô levou Oxalufã ao cume, para dali mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio. E foi lá de cima que Xangô avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela. Era Oiá! Era o amalá do rei que ela preparava!

Xangô não resistiu à tamanha tentação. Oiá e amalá! Era demais para a sua gulodice, depois de tanto tempo pela estrada. Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando Oxalufã em meio às pedras, rolando na poeira, caindo pelas valas. Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos, que atingiram diretamente o povo de Xangô.

Xangô, muito arrependido, mandou todo o povo trazer água fresca e panos limpos. Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá. Oxalufã aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames, que por dias o povo lhe ofereceu. Mas Oxalá impôs um castigo eterno a Xangô. Ele que tanto gosta de fartar-se de boa comida.

Nunca mais pode Xangô comer em prato de louça ou porcelana. Nunca mais pode Xangô comer em alguidar de cerâmica. Xangô só pode comer em gamela de pau, como comem os bichos da casa e o gado e como comem os escravos.

 

LENDA DE ODÉ
Na cidade de Ifé, realizavam-se festividades e rituais por ocasião das colheitas. Os sacerdotes da aldeia, fugindo aos seus costumes, não realizavam as oferendas obrigatórias para três das maiores bruxas conhecidas: as Iya-mi Oxorongás. Esse ato imperdoável precisava de uma boa punição. Foi assim que elas enviaram um enorme pássaro para assombrar aquela aldeia.
A ave ficou pousada no telhado do palácio, de onde podia avistar toda a cidade.
Um clima de medo e mau agouro espalhou-se entre os moradores, que não sabiam o que fazer para acabar com aquele terrível monstro.
Oferendas foram realizadas para as Oxorongás, mas sem resultado. Era tarde demais para isso.
Foi então que alguns caçadores se apresentaram para matar o pássaro das bruxas, mas foram todos derrotados. O último caçador possuía apenas uma flecha, e era a última esperança de livrar a aldeia da morte. Esse caçador era Odé.
Sua mãe, que estava longe daquele lugar, teve um mau presságio com relação a ele. Consultando um babalawô, teve a confirmação do que já sabia: seu filho corria grande perigo.
Foram necessárias muitas oferendas para que a missão de Odé fosse executada com perfeição e, graças a isso, Odé pôde matar o pássaro com sua única flecha, livrando sua aldeia da aniquilação. Desde então, vem sendo venerado por esse povo.


LENDA DE OSSAIN
Ossain era o único orixá que sabia reconhecer e despertar os poderes mágicos das plantas e usá-los para curar as enfermidades, ou nos rituais litúrgicos. Ele sabia como ninguém, fazer misturas mágicas com os vegetais, raízes e folhas.
Os outros orixás também tinham o desejo de possuir suas próprias folhas, bem como o conhecimento necessário para receber o axé proveniente delas, mas Ossain não revelava seus segredos e não deixava ninguém apanhar folhas em suas florestas.
Oyá (Yassan) não aceitava essa situação, pois sua aldeia estava sendo assolada por doenças, e nada podia ser feito. Foi, então, que ela pediu a Ossain que lhe desse algumas folhas e seus respectivos encantamentos, mas este se negou a fazê-lo. Oyá ficou muito contrariada, não se conformando com uma atitude tão insensível. Sua fúria incontrolável fez levantar o vento. E o vento foi tão forte, que as folhas se desprenderam das árvores, voando para todos os cantos da floresta. Ossain gritava: "Minhas folhas, minhas folhas". A cabaça com os segredos ficou exposta por algum tempo, possibilitando aos orixás a oportunidade de absorver uma pequena parte desse conhecimento. Assim, os orixás cataram suas folhas, que seriam utilizadas em seus rituais sagrados; porém, não podiam dispensar a ajuda de Ossain, pois ele sempre será o grande sábio da floresta.
Outra lenda nos conta que Ossain trabalhava na roça de Orunmilá, que é um orixá fun-fun (da cor branca) e detentor do conhecimento do oráculo divinatório. Ossain tinha a tarefa de cultivar os campos, mas recusava-se a limpar o terreno para fazer a semeadura. Ele não conseguia podar as plantas, pois achava utilidade em todas elas. Essas folhas podiam curar todo tipo de doença existente.
Orunmilá, vendo que o serviço não saía, foi ver o que estava acontecendo.
Ossain explicou seus motivos, fazendo com que o grande orixá fun-fun percebesse estar diante de um ser encantado e de grande conhecimento. Ao invés de castigá-lo, deu-lhe uma posição de destaque dentro do oráculo de Ifá. Dessa forma, Orunmilá teria, perto de si, alguém para lhe revelar os segredos das folhas.

 

XAPANÂ

LENDA DE OBALUAYE – OMULU
Nanan, esposa de Orixalá, gerou e deu à luz a um filho. Sua criação não foi perfeita, nascendo uma criança doente, com muitas chagas recobrindo seu pequeno corpo. Ela não conseguia imaginar que maldição era aquela, que trouxe de suas entranhas uma criatura tão infeliz!
Sentindo-se impossibilitada de cuidar daquela criança, pois mal conseguia olhar para ela, resolveu deixá-la perto do mar. Se a morte a levasse seria melhor para todos.
Yemonjá, que estava saindo do mar, viu aquele pequeno ser deitado nas areias da praia. Ficou olhando por algum tempo, para ver se havia alguém tomando conta dele, mas ninguém aparecia. Então, a grande divindade das água foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou mais perto, pôde compreender que aquela criança tinha sido abandonada por estar gravemente enferma. Sentindo uma imensa compaixão por aquela pobre criatura, não pensou em mais nada, a não ser em adotá-lo como a um filho.
Com seu grande instinto maternal, Yemojá dispensou a ele todo o carinho e os cuidados necessários para livrá-lo da doença. Ela envolveu todo o corpo do menino com palhas, para que sua pele pudesse respirar e, assim, fechar as chagas.
Obaluayê cresceu e continuou usando aquele tipo de roupa, e ninguém, a não ser sua querida mãe, tinha visto seu rosto. Era um ser austero e misterioso, provocando olhares curiosos e assustados de todos. Ninguém conseguia imaginar o que se escondia sob aquelas palhas.
Oyá, certa vez, o encarou, pedindo que descobrisse seu rosto, pois queria desvendar, de uma vez por todas, aquele mistério. Obaluayê, sem lhe dar a menor atenção, negou-se a fazê-lo. Ela, que nunca se deu por vencida, resolveu enfrentá-lo. Usando toda sua força, evocou o vento, fazendo voar as palhas que o protegiam.
Quando a poeira assentou, Oyá pode ver um ser de uma beleza tão radiante, que só poderia ser comparado ao sol. Nem mesmo ela, como orixá, conseguia erguer os olhos para ele. Assim, todos entenderam que aquele mistério deveria continuar escondido.
Uma outra lenda nos mostra que esse poderoso orixá, em suas andanças pelo mundo, pode presenciar o desenrolar de muitas guerras. Os povos que Olorun criou e deu vida brigavam por um pedaço de terra. Muitas pessoas morriam, para que seus líderes pudessem conquistar extensões maiores para seu reinado. Os limites, para esses guerreiros, eram insuperáveis, e as guerras não tinham mais fim. Obaluayê não entendia o motivo destas guerras, já que Olorun havia criado a terra para todos.
As lutas traziam muita dor e destruição, e ninguém mais sabia dar o devido valor à vida humana. Os homens só pensavam em seus interesses materiais.
Obaluayê, indignado com essa situação, resolveu mostrar a eles que a vida é o maior tesouro que alguém pode ter.
O poderoso orixá traçou, então, com seu cajado, um grande círculo no chão, no centro dos conflitos. Colocou dentro dele todo tipo de doença existente. Todo guerreiro, que por ali passasse, iria contrair algum tipo de doença.
De fato, foi o que aconteceu. Muitas pessoas adoeceram, inclusive os líderes dos exércitos. Só isso conseguiu por fim às guerras.
As doenças se transformaram em epidemias, deixando populações inteiras à beira da morte.
Um babalawô revelou o mau presságio, pedindo a todos que refletissem sobre o que estava acontecendo, por culpa deles próprios. Obaluayê havia mandado essas mazelas para a terra, a fim de mostrar que, enquanto temos saúde e uma vida plena, não devemos nos preocupar excessivamente com coisas materiais. Desta vida nada se leva, a não ser o conhecimento e a experiência que acumulamos.
Assim, os que aceitaram esses desígnios e fizeram oferendas, conforme explicou o babalawô, conseguiram livrar-se de suas enfermidades e restabelecer sua dignidade. Mas, infelizmente, nem todos agiram assim.
Talvez, por isso, existam tantos povos africanos vivendo do mesmo jeito há milhares de anos, tentando não se desligar da natureza.

 

LENDA DE OYÁ - YANSAN
Segundo a lenda, Oyá vivia feliz com Ogun, pois os dois tinham muitas coisas em comum, como o gosto pela guerra e o desejo de desbravar novos lugares. Gostavam da companhia um do outro, sentindo-se em harmonia. Com ele, que é conhecedor de todos os caminhos, Oyá aprendeu a andar pela Terra.
Gostava muito de vê-lo trabalhar, em seu oficio de ferreiro, tentando aprender como ele confeccionava suas armas e ferramentas. Oyá pedia insistentemente que lhe fizesse uma arma para guerrear.
Um dia, Ogun a surpreendeu, oferecendo-lhe uma espada curva, que era ideal para seu uso. Isso a agradou muito, tanto que, mais tarde, todo seu exército estava usando esse mesmo tipo de arma.
Mas Ogun não a levava em suas batalhas, deixando-a sozinha e entediada. Sem falar no tempo que gastava em seus afazeres de ferreiro. Oyá adorava a liberdade, mas, ao mesmo tempo, não dispensava uma boa companhia. Começou a sentir-se rejeitada por ele.
Foi nesse momento que Xangô, o grande rei, foi procurar Ogun, pois precisava de armas para seu exército. Ele era muito atraente e cuidadoso com sua aparência. Era impossível não notar sua presença.
Ogun, aceitando o pedido, começou a produzir armas para Xangô, que tinha muita urgência. Ficaria na aldeia o tempo necessário para o término do serviço.
Xangô também notou a presença de Oyá, sentindo uma grande atração por ela. Com seu jeito de ser, aproximou-se dela para trocar conhecimentos a respeito de suas habilidades. Descobriram, nessas conversas, que possuíam muitas afinidades, inclusive que não gostavam de viver isolados, assim como Ogun.
Oyá estava muito interessada em Xangô e em tudo o que estava aprendendo com ele, mas não queria magoar Ogun, a quem respeitava muito.
Xangô propôs-lhe uma união eterna, sem monotonia, sem solidão, viajando sempre juntos por toda a Terra. Seria uma união perfeita.
Quando Ogun terminou seu trabalho, os dois já haviam partido. Ele ficou enfurecido com a traição de ambos, mesmo sabendo que sua companheira não podia ficar cativa para sempre.
Partiu atrás deles para vingar sua desonra!
Oyá estava vindo ao seu encontro, para explicar-lhe que não poderia mais ficar com ele, pois Xangô a completava, mas que iria respeitá-lo sempre como grande orixá da guerra.
Ogun estava tão enfurecido, que não ouviu o que ela dizia, e foi com grande fúria que investiu contra ela, erguendo sua espada. Oyá, em defesa própria, também o atacou. Ela foi golpeada em nove partes do seu corpo, e Ogun em sete, formando curas. Esses números ficaram muito ligados a esses orixás, assim como as curas, que foram introduzidas nos rituais africanos.

 

Otim

Otim é um Orixá feminino, cultuado no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul. É o nome de um rio que corre entre Ilorim e Ibadã, na Nigéria.

Otim é a companheira inseparável de Odé, assim como este, usa arco e flecha para acertar sua caça e a lança para pescaria. Carrega na cabeça um Cântaro cheio de água utilizada em suas lidas cotidianas. Come toda espécie de caça, mas seu prato predileto é a carne de porco.

Otim faz parte do erumalé de quase todos os sacerdotes aqui no Rio Grande do Sul. Quem faz o assentamento de Odé é obrigado a fazer junto às obrigações de Otim.

 

 

 Obá

Orixá feminino de origem nagô cultuada no Brasil, conhecida principalmente pelo fato de fazer parte nas lendas referentes a Xangô e suas três mulheres – Iansã, Oxum e Obá.

O conceito básico ligado à Obá é o da paixão, mas não na perspectiva controlada de Oxum nem na proposta feliz e libertária de Iansã, a deusa dos amores arrebatados e absolutos. Para Obá, paixão é razão de sofrimento, de disputa e de submissão mal-aceita.

Conta uma das lendas mais conhecidas a seu respeito que Xangô mantinha um relacionamento cheio de altos e baixos com Iansã, e que sua esposa favorita era Oxum. Obá era a terceira neste casamento polígamo, e nunca podia rivalizar com as outras duas antagonistas, mais cheias de brilho e força (Iansã) ou beleza e inteligência (Oxum).

Obá era insegura em relação a tudo que se relacionava com seu marido, pois era uma figura sem muitos atrativos físicos e um pouco seca e ríspida no seu comportamento diário. Era, porém, extremamente crédula, e, sabendo que Xangô apreciava muito as constantes receitas de culinária que Oxum lhe preparava, mostrou-se disposta a aprendê-las. Esta, contudo, dona de um caráter exclusivista, não estava disposta a ensinar à concorrente como agradar a Xangô, e resolveu enganar sua rival: marcou um horário para que Obá fosse à sua casa aprender a receita que teria poderes mágicos sobre a sexualidade de Xangô.

Quando Obá surgiu, Oxum cozinhava uma sopa que continha dois grandes cogumelos. Usava um pano amarrado à cabeça, escondendo as orelhas, e disse à Obá que estava preparando um caldo com suas próprias orelhas, pois essa era a receita favorita de Xangô. Obá, então, preparou uma sopa onde cortou e incluiu uma de suas próprias orelhas, e a serviu feliz para o marido.

Como era de se esperar, a reação de Xangô perante a imagem da esposa com uma orelha cortada foi tremendamente negativa; e piorou ainda mais quando ele viu o prato de comida que o esperava. Além de ser repreendida por Xangô, Obá ainda teve que suportar a troça de Oxum, que, descobrindo suas orelhas, revelou à rival que tudo tinha sido apenas um truque. Elas, então se engalfinharam numa terrível luta física, que só terminou com uma explosão de cólera da parte de Xangô; o que fez as duas fugirem apavoradas, cada uma para uma lado, transformando-as nos rios que atualmente levam seus nomes.

Obá responde pelos amores com perturbações, ciúme, desonra e falsidade. O corte, a navalha, a roda, a direção, as máquinas, agulha de costura, tesoura são de seu domínio. Come cabra mocha; sua cor é o marrom e o rosa, seu dia da semana é segunda-feira e seu sincretismo no batuque é com Santa Catarina.

 

Oxum

Oxum é a Rainha da nação Ijexá. Sincretizada com diversas Nossas Senhoras ao longo do Brasil, Oxum manifesta uma delicadeza e juventude rara em outros orixás femininos. Responsável pela fertilidade e pelos recém-nascidos é, sobretudo conhecida por sua beleza, a qual as lendas adornam com ricas vestes e objetos de uso pessoal. Domina os rios e cachoeiras, imagens cristalinas de sua influência: atrás de uma superfície aparentemente calma podem existir fortes correntes e cavernas profundas.

Oxum é um orixá feminino bastante conhecido e cultuado no Brasil, onde sua imagem é quase sempre associada à maternidade, sendo comum ser invocada através de carinhosa expressão Mamãe Oxum.

Até mesmo em dias de festas, no batuque do RS, é nas rezas de Oxum que a maioria dos Orixás se manifestam. Principalmente da Oxum Docô, que auxiliou na criação da maioria dos filhos de Yemanjá.

Oxum é o nome de um rio em Oxogbo, província de Ibadã, na Nigéria. É também a morada da deusa que lhe dá o nome, sendo ela conhecida como a dona da água doce. Portanto, seu elemento natural é o leito dos rios e, especialmente, as cachoeiras, onde costumam ser-lhe entregues as comidas e os presentes.

Tem a seu cargo o dom da fertilidade, assim como Yemanjá. É a ela que dirige as mulheres que querem engravidar, sendo responsabilidade de Oxum também zelar pelas crianças que estão em gestação e pelas recém-nascidas.

Além dessas legações, Oxum é considerada a deusa da beleza,do ouro, do dinheiro, da riqueza, do amor, da aliança, do casamento, da felicidade, do perfume, da vaidade, do mel e tudo que é doce. Oxum é considerada uma das mais belas figuras físicas do panteão mítico iurobá.

Pela sua beleza, Oxum teria despertado muitos amores. Mas seu relacionamento mais importante foi com Xangô.

A cor que lhe pertence é o amarelo-ouro, seu dia da semana é o sábado e, é sincretizada com diversas Nossas Senhoras. Cultuamos no batuque do RS várias qualidades de Oxum entre elas a Pandá, Demum e Docô. No altar de Oxum, além das quartinhas, pratos, vasilhas com água e axés, costuma haver flores, perfumes, leques e até bonecas. É a figura da juventude eterna. Com seu jeito de criança inconseqüente que julga naturalmente merecer todos os cuidados e mimos.
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Iemanjá

A Rainha das Águas é famosa em todo o Brasil pelos cerimoniais a ela dedicados nas praias por ocasião da passagem do ano. Boa parte dos brasileiros lembra-se de Yemanjá quando acontece a passagem do ano: é uma tradição ofertar presentes ao mar, a morada da deusa, e desse ritual participam pessoas que inclusive não têm maior ligação com a religião afro-brasileira.

Orixá feminino de origem iorubá. É uma das figuras mais conhecidas nos cultos brasileiros, já que suas festas anuais sempre movimentam um grande número de iniciados e simpatizantes tanto no batuque, candomblé e umbanda.
Na África, a origem de Yemanjá é um rio que vai desembocar no mar e que o formaria. É a mãe de quase todos os orixás criados originalmente na cultura iorubá.

Apesar de os preceitos tradicionais relacionarem tanto Oxum como Yemanjá à função da maternidade, pode estabelecer-se uma distinção nesses conceitos. Oxum é a mãe no sentido de fecundação, gestação e criação do bebê, enquanto este não aprende nenhuma língua, enquanto seus mecanismos de personalidade não estão definidos; Yemanjá, por sua vez, é mãe daí por diante, é a função de maternidade enquanto educação. É a mãe do jovem e do adulto, a figura materna que acompanha um ser humano toda a vida. Em todas as lendas Yemanjá nunca surge lidando com crianças, e sim com adultos, com os quais não hesita usar os típicos truques associados ás mães possessivas para manter os filhos consigo.

A cor de Yemanjá é o azul, o dia dedicado a ela no batuque é a sexta-feira, é sincretizada com Nossa senhora dos Navegantes. Ela é padroeira tradicional dos marinheiros, estendo-se essa proteção a praticamente todos os seres viventes, já que é a grande mãe do astral.

 

Oxalá

É o orixá mais querido e respeitado do panteão afro-brasileiro. O branco, símbolo tradicional da pureza é a cor de tudo que esteja ligado a Oxalá, o responsável, segundo a mitologia iorubana, pela criação e administração do mundo. Rege os demais orixás e, por conseguinte, os homens. Acima dele só Olorum, o deus supremo iorubá.

Oxalá é a figura paternal, calmo e sereno nos momentos mais difíceis; uma dignidade distante e certa tendência à centralização também fazem parte de sua imagem típica.
Segundo a maior parte dos ítans, ele é pai de todos os orixás. Filho direto de Olorum ou Olodumare, Oxalá representa o céu, princípio de tudo que, ao tocar o mar, na representação simbólica de um ato sexual, teria criado todos os outros orixás para que cuidassem dos seres da terra, os homens, cercados pelos céus e pelo mar de todos os lados.

Vários nomes são ligados a Oxalá. Na Nigéria prevalece o nome Obatalá. Em Oko, Orixaakô; em Ejigbo, recebe o nome de Oguinhã. Em todos estes locais, porém, é inquestionável seu posto de supremacia.

Existem diversos tipos de Oxalá, como acontece com todos orixás africanos, mas neste caso há um certo destaque para duas de suas formas, justamente Oxalá mais novo e o Oxalá mais velho.

Oxalá sempre é o último a ser reverenciado em todas cerimônias dedicadas aos orixás. Sua cor é o branco, seu dia da semana no batuque é o domingo. Oxalá velho é sincretizado com Divino Espírito Santo e Nosso Senhor do Bom Fim, e o novo com Menino Jesus de Praga.

 

Outros Orixás  falaremos na proxima edição:

BARÁ AGELU

OGUM AVAGÃ

OXALOA MOÇO

OXUM DOCÔ..